Confira abaixo a matéria que participei sobre o uso da internet na adolescência, para o Jornal Correio.
Link original: https://glo.bo/2KdvliD
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Adolescentes utilizam cada vez menos Facebook e preferem YouTube e Instagram
Se você acha que está abalando por dominar todas as funções do Facebook, saiba que a rede social mais usada do mundo está com os dias contados entre os adolescentes da nossa geração. O Face deixou de ser a rede social mais utilizada e popular entre os jovens entre 13 e 17 anos, segundo estudo do Pew Research Center. Só metade (51%) diz ainda usar o Facebook, uma descida de 28% face a 2015, quando a rede liderava a tabela das plataformas mais utilizadas.
A mesma pesquisa mostra que é crescente a preferência dos mais novos conectados pelo YouTube (85%) e pelo Instagram (72%). Atrás do Facebook está o Twitter (utilizado por 32% dos jovens) e o Tumblr (9%). A tendência já se reflete no Brasil e na Bahia, de acordo com dados do Google Trends.
“Dá para enxergar uma clara mudança no interesse do Brasil e da Bahia pelas redes sociais. É possível notar claramente um crescimento na popularidade do Instagram e no YouTube e uma queda de interesse nas buscas por Facebook”, explica o publicitário Alan Coelho. Em cinco anos, o interesse dos baianos pelo Instagram, por exemplo, cresceu 48 pontos. “Já o YouTube ganha força aqui porque é focado em vídeos. É a TV dos mais jovens, que não precisam se programar e podem ver na hora que querem. Consomem, ainda, um conteúdo bem específico, de nicho. O grande protagonista do momento é o formato vídeo”, pontua ele, que é diretor de planejamento da agência Morya.
Pensando nessa nova forma de consumo, inclusive, Mark Zuckerberg mostrou que não quer ficar para trás. O dono do Face tem focado em ferramentas mais interativas no Insta, com enquetes e gifs na ferramenta Stories. O lançamento recente da IGTV – ferramenta de vídeos do Insta para concorrer com o YouTube – faz parte dessa estratégia. “Muitos jovens migram para o Instagram pela maior interatividade. Lá, eles têm filtros, máscaras, podem dar zoom, colocar efeitos e acompanhar o que os amigos estão fazendo. Tenho uma afilhada de 11 anos que ama Instagram e YouTube e muito disso acontece pela influência das amigas. Todas elas têm canal no YouTube para dar dicas, criam fã clubes umas para as outras. Tudo para que se sintam importantes. Existe uma necessidade dessa aprovação”, afirma a comunicóloga Priscyla Caldas, diretora da Êxito Marketing.
Tanto é que, para muitos adolescentes, importa bastante a quantidade de visualizações e comentários das postagens. “Ganho muito mais curtida no Instagram do que no Facebook. Já no Instagram Stories, tenho maior número de visualizações do que nas postagens. Gosto que a gente vai passando e vendo um pouco do que todo mundo que a gente segue está fazendo”, conta o estudante Erick Jonathan Vilas Boas, 14 anos.
Os números melhores no Instagram em comparação ao Facebook têm a ver com a recente mudança de algoritmo da ferramenta, que diminuiu a entrega do conteúdo das pessoas e páginas no Face. “No Instagram, o engajamento é muito maior. Primeiro, o Snapchat ganhou força; depois o Instagram reteve esses adolescentes pelos Stories. O que faz a ferramenta vingar é o fato do conteúdo ter uma durabilidade e sumir em 24 horas. Além disso, nas outras redes eles não têm a presença dos pais e têm mais privacidade”, ressalta Alan.
Priscyla ressalta que essas redes funcionam como um diário: “Se antes, a gente contava nossos segredinhos em cadernos, hoje em dia eles contam através do Instagram. No YouTube, eles compartilham conhecimento. É uma forma de se sentirem importantes no meio. E não é algo difícil: só precisa de um celular e de internet”.
E foi assim, com pouca infraestrutura, que o estudante João Pedro Oliveira, 14, começou a postar vídeos em seu canal, Mas o quê, Jotta ?!, que tem 34 inscritos. Por lá, ele já compartilhou sete vídeos sobre seu cotidiano. “O YouTube é o mundo em vídeos. Vejo todos os dias. Me divirto fazendo e gosto de ver vídeos grandes lá. Acho o Facebook mais comercial e não tenho a mesma conexão. Não me sinto muito bem colocando minhas fotos e vídeos lá”, conta ele, que gosta de assistir vídeos de comédia e de futebol no YouTube: “Os meus canais preferidos são Desimpedidos, que fala de futebol, e Whindersson Nunes”.
Apesar de adorar passar horas no YouTube, Oliveira gosta mesmo é do Instagram. Por lá, além dos amigos, segue também alguns ídolos. “É a minha rede social preferida, porque meus amigos estão lá e vejo o cotidiano deles em imagens. O público jovem fica grudado nessas redes porque é lá que postamos nossa vida e vemos as coisas um dos outros, recebemos likes e queremos sempre postar mais. Sigo muita gente, marco alguns ídolos como Neymar, cantores do The Voice Kids e jogadores do Bahia”. Para ele, uma das maiores vantagens das suas redes prediletas é que aproximam as pessoas dos seus ídolos. “Tanto nos Stories como no YouTube, eles contam coisas quem às vezes nem falam na TV”, justifica.
A cofundadora da plataforma Youpix e especialista em cultura digital, Bia Granja, defende os vídeos nas redes sociais têm ganhado cada vez mais espaço nas mídias digitais porque engajam ainda mais os jovens do que outros conteúdos. “Para se ter uma noção, o tempo de consumo vídeo no digital somado já passa o da TV e a estimativa é que até 2021, o social video irá representar 80% do tráfego da internet”, destaca.
Apesar de gostar muito do YouTube, a estudante Brenda Borges, 17, admite que tem evitado entrar na plataforma. “Quando entro, não consigo sair mais, é tipo um buraco negro. Você está lá procurando sobre Guerra Fria e, do nada, três horas depois, você está vendo um vídeo aleatório”, comenta. Mesmo sendo fã do Snapchat, onde consegue controlar quem assiste seus vídeos, Brenda faz parte da minoria dos jovens que acessa bastante Facebook. “Acho que tem muitas matérias interessantes e traz mais informação. Também existem testes que dá para ver melhor lá, mas entendo que as pessoas preferem o Instagram porque gostam de mostrar o tempo todo o que estão fazendo. Mostram a cara, o corpo e as fotos delas o tempo todo”, afirma.
Os grupos também fizeram a estudante não abandonar o Face: “Participo de vários de viagem, de morar sozinha, de meninas viajantes e as pessoas escrevem suas experiências lá e acho muito legal, dão um up na minha vida”.
Guia dá dicas de segurança para crianças no YouTube
O Movimento Infância Livre do Consumismo (Milc) criou um guia para as crianças navegarem com mais segurança no YouTube. “Não existe bloqueio digital perfeito” é uma das advertências do material. Segundo o Milc, a regra básica é que as crianças só deveriam assistir TV e vídeos acompanhadas. O guia completo pode ser acessado aqui.
O Milc existe desde 2012 e reúne pais, professores e ativistas preocupados com a veiculação de propaganda nas escolas e publicidade dissimulada em conteúdos apresentados em canais e vídeos na internet.
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